Livro: Avalon High - Meg Cabot / Parte 1


Capítulo 1

E sob o luar o ceifeiro cansado
empilhando maços sobre a montanha aérea
escutando os suspiros
'Esta é a delicada Dama de Shalott.'

“Você tem tanta sorte.”

Espera que minha amiga Nancy para ver as coisas desse jeito. Nancy é o que você poderia chamar de otimista.

Não que eu seja pessimista, ou coisa assim. Eu sou apenas... Realista. Ao menos de acordo com Nancy. Aparentemente, eu também tenho sorte.

“Sorte?” eu ecoei no telefone. “De que jeito eu tenho sorte?”

“Oh, você sabe,” Nancy disse. “Você pode começar tudo de novo. Em uma nova escola. Onde ninguém realmente te conhece. Você pode ser o que você quiser. Você pode se transformar totalmente e não vai ter ninguém em volta para ficar ‘Quem você pensa que está enganado, Ellie Harrison? Eu me lembro quando você comeu cola na primeira série.”

“Eu nunca pensei na coisa desse modo,” eu disse. Porque eu não tinha mesmo. “De qualquer jeito, foi você quem comeu cola.”

“Você entendeu o que eu quis dizer.” Nancy suspirou. “Bem. Boa sorte. Com a escola e tudo mais.”

“Yeah,” eu disse, sentindo mesmo sobre as mil milhas de distância entre nós, que era hora de desligar. “Tchau.”

“Tchau,” Nancy disse. Então acrescentou, “Você tem tanta sorte.”

Realmente, até Nancy dizer isso, eu não tinha pensando que tinha qualquer sinal de sorte sobre a minha situação. Exceto talvez o fato de que há uma piscina nos fundos da minha nova casa. Nós nunca tivemos uma piscina. Antes, se Nancy e eu queríamos ir para a piscina, nós precisávamos subir nas nossas bicicletas e dirigir cinco milhas – a maior parte subida - até o parque Como.

Eu tenho que dizer, quando meus pais soltaram a bomba sobre o sabático, o fato de que eles acrescentaram rapidamente “E nós vamos alugar uma casa com piscina!” foi à única coisa que me impediu o vômito que começou a subir pela minha garganta. Se você é filho de professores, sabático é provavelmente a palavra mais suja de seu vocabulário. A cada sete anos, a maioria dos professores arranjam um – basicamente umas férias que dura por um ano, para que eles possam se recarregaram e publicar um livro.

Professores amam sabáticos.

Seus filhos odeiam.

Porque quem gostaria realmente de sair e deixar todos os seus amigos, fazer novos amigos em uma escola nova e só ficar pensando “Okay, isso não é tão ruim,” só para Ter que sair novamente um ano depois e voltar para o lugar que você saiu?

Não. Não se você for sã, de qualquer jeito.

Ao menos este sabático não é tão ruim quando o último, que foi na Alemanha. Não que há nada de errado com a Alemanha. Eu ainda troco e-mails com Anne-Katrin, a garota com quem eu dividia uma mesa na estranha escola alemã que eu fui.

Mas vamos lá. Eu tive que aprender toda uma linguagem diferente!

Ao menos este aqui ainda era na América. E okay, nós estávamos fora de Washington, DC, o que não é como resto da América. Mas todo mundo aqui fala inglês. Até agora. E tem uma piscina.

Ter sua própria piscina acabou se tornando uma grande responsabilidade. Quer dizer, toda manhã você tem que checar os filtros e ter certeza que eles não estão bloqueados com folhas ou morto moles. Sempre tinha um sapo ou dois nela. Normalmente, se eu chego lá cedo o suficiente, eles ainda estão vivos. Então eu tenho que conduzir uma operação de resgate ao sapo.

O único jeito de resgatar os sapos é entrar na água para tirar a cesta do filtro para fora, então você acaba tocando todo tipo de coisa nojenta que flutua ali, como besouros mortos e, algumas vezes, ratos afogados. Uma vez tinha uma cobra. Ainda estava viva. Eu realmente não toco nada que seja capaz de lançar veneno que paralisa nas minhas veias, então eu gritei para os meus pais que tinha uma cobra na cesta do filtro.

Meu pai foi aquele quem berrou de volta, “E daí? O que você quer que eu faça a respeito?”

“Tira ela daí,” eu disse.

“De jeito nenhum,” meu pai disse. “Eu não vou tocar em cobra nenhuma.”

Meus pais não são como os outros pais. Por uma coisa, os pais das outras pessoas deixam a casa para ir trabalhar. Alguns estão fora quarenta e cinco horas em uma semana, eu ouvi.

Não os meus. Os meus estão em casa o tempo todo. Eles nunca saem! Eles estão sempre em seus escritórios-em-casa, escrevendo ou lendo. Praticamente o único horário que eles saem de seus escritórios é para assistir Jeopardy! (programa de perguntas e repostas) e então eles gritam as respostas um para o outro.

Os pais de mais ninguém que eu conheça sabe todas as respostas de Jeopardy! Ou as gritam se eles sabem. Eu sei, estive na casa de Nancy e vi a evidência por mim mesma. Seus pais assistem Entertainment Tonight depois do jantar, como pessoas normais.

Eu não sei nenhuma das respostas de Jeopardy! É por isso que eu meio que odeio esse programa.

Meu pai cresceu no Bronx, onde não há nenhuma cobra. Ele odeia completamente a natureza. Ele totalmente ignora nosso gato, Tig. O que é claro significa que Tig o adora.

E se meu pai vê uma aranha, ele grita como uma garota. Então minha mãe, que cresceu numa fazenda em Montana e não tem paciência nenhuma por aranha ou pelos gritos do meu pai, vai entrar e matar a aranha, a despeito de todas as vezes que eu disse que aranhas são extremamente beneficiais para o meio ambiente.

É claro, eu sou esperta o suficiente para não contar a minha mãe sobre a cobra no filtro da piscina, porque ela teria simplesmente ido e arrancado sua cabeça na minha frente, no final, eu achei um galho solto, e a puxei para fora desse jeito. Eu a deixei ir no pequeno bosque que fica atrás da casa que estamos alugando. Mesmo que a cobra não tenha sido uma daquelas assustadoras quando eu criei coragem de salvá-la, eu espero que ela não volte.

Tem outras coisas que você tem que fazer se você tem a sua própria piscina, além de limpar a cesta do filtro. Você tem que limpar o chão da piscina – isto é meio que divertido- e você têm que estar na água o tempo todo, por cloro e pH. Eu gosto de estar na água. Eu faço algumas vezes ao dia. Você põe a água nesses pequenos tubos para teste e então acrescenta algumas gotas dessa coisa, e tenão se a cor da água no tubo teste se tornar esquisita , você derruba algum pó na cesta do filtro. É parecido com química, só que melhor, porque quando você termina, ao invés de uma bagunça com um cheiro ruim como eu sempre terminava na aula de química do ano passado, você consegue uma água linda azul e transparente.

Eu passei a maior parte do verão em Annapolis mexendo com a piscina. Eu digo “mexendo”. Meu irmão Geoff – ele foi embora para o primeiro ano de faculdade na Segunda semana de agosto – diz de uma maneira diferente. Ele fala que eu estava “agindo como uma lunática.”

“Ellie,” ele disse para mim mais vezes do que eu posso contar, “relaxa. Você não precisa ficar fazendo essas coisas. Nós temos um contrato com uma companhia de piscina. Ele vem toda semana. Deixe eles fazerem isso.”

Mas o cara da piscina não se importa realmente com a piscina. Quer dizer, ele está fazendo isso só pelo dinheiro. Ele não vê a beleza da coisa, eu tenho certeza.

Mas eu acho que entendo de onde Geoff tirou aquilo. Quer dizer, a piscina meio que começou a ocupar uma grande quantidade do meu tempo. Quando eu não estava limpando, eu estava flutuando no topo da água, em um desses botes infláveis que eu fiz minha mãe e pai comprarem para nós na Wawa. Este é o nome da estação de gás aqui em Maryland. Wawas. Eles não têm nenhum Wawas na minha casa em Minnesota. Só tem coisas como Mobils ou Exxons.

De qualquer jeito, nós enchemos o bote no Wawas mesmo, com aquele ar que as pessoas deveriam usar para encher os pneus, mesmo que você não devesse usá-lo para encher botes. Diz isso no próprio bote.

Mas quando Geoff apontou essa informação para o nosso pai, ele só disse “Quem se importa?” e os encheu do mesmo jeito.

E nada de ruim aconteceu.

Eu tentei manter a mesma rotina durante todo o verão. Todo dia eu acordava e colocava meu biquíni. Então eu agarrava uma barra de cereal e ia para a piscina para checar as cestas dos filtros por sapos ou o que seja. Então quando a piscina estava limpa, eu pegava um dos botes com um livro e começava a flutuar.

Na época que Geoff foi para a escola, eu estava tão boa em flutuar que eu podia fazer sem nem mesmo molhar meu cabelo ou coisa assim. Eu podia ficar ali toda a manhã sem parar, até minha mãe ou pai vir para o deck e dizer: “Almoço.”

Então eu entrava e mãe e pai e eu comeríamos sanduíche de creme de amendoim e geleia, se fosse o meu dia de cozinhar, ou carne de Red Hot and Blue que ficava mais para baixo da rua, se fosse a vez dos meus pais, em conta dos dois estarem muito ocupados escrevendo livros para cozinhar.

Então eu voltava para a piscina até minha mãe ou pai sair e dizer “Jantar.”

Eu não acho que esse seja um jeito tão ruim de passar as últimas semanas de verão.

Mas minha mãe achou.

Eu não sei por que ela tem que fazer assunto dela, o jeito como eu passo o meu tempo. Quer dizer, ela é a pessoa que deixou meu pai nos arrastar para cá em primeiro lugar, por causa do livro que ele está pesquisando. Ela poderia ter escrito o seu próprio livro – na minha xará, Elaine de Astolat, a Dama de Shalott – em nossa casa em St. Paul.

Ah, é. Esta é outra coisa sobre ter professores como pais: eles te nomeiam sobre autores totalmente aleatórios – como pobre Geoff, esse nome por causa de Geoffrey Chaucer – os personagens de literatura, como a Dama de Shalott, ou Lady Elaine, que se matou porque Sir Lancelot gostava mais da Rainha Guinevere- você sabe, aquela que Keira Knightley interpretou no filme do Rei Arthur- do que gostava dela.

Eu não me importo como o poema sobre ela é bonito. Não é exatamente legal ter um nome por causa de alguém que se matou por causa de um garoto. Eu mencionei isso várias vezes para os meus pais, mas eles ainda não entenderam.

A coisa do nome não é a única coisa que eles não entende, também.

“Você não quer ir ao shopping?” minha mãe começou a me perguntar todos os dias, antes que eu conseguisse escapar para a piscina. “Não quer ir ao cinema?”

Mas agora que Geoff tinha ido para a faculdade, eu não tinha ninguém para ir ao shopping ou no cinema comigo - ninguém com exceção dos meus pais. E de jeito nenhum eu iria com eles. Já estive lá, já fiz isso.

Nada como ir ao cinema com duas pessoas que precisavam dissecar cada detalhe do filme em relação à vida. Quer dizer, é um filme do Vin Diesel, okay? O que eles esperavam?

“A escola vai começar logo,” eu disse para a minha mãe. “Porque eu não posso flutuar até lá?”

“Porque não é normal,” minha mãe respondeu, quando eu perguntei isto para ela.

Eu retruquei, “Oh, e você sabe o que é ser normal,” porque, vamos encarar, ela e meu pai são dois estranhos.

Mas ela nem mesmo ficou irritada. Ela só balançou a cabeça e disse, “Eu sei qual é o comportamento normal para adolescentes. O flutuar naquela piscina sozinha não é.”

Eu pensei que isso fosse desnecessariamente severo. Não tem nada errado em flutuar. É, na verdade, muito divertido. Você pode deitar lá e ler, ou, se o seu livro fica monótono ou você o termina e está com muita preguiça para buscar ou novo ou o que seja, você pode observar a maneira que a luz do sol reflete na água e nas costas das folhas e árvores sobre você. E você pode ouvir os pássaros a distância, o barulho da prática de tiros na Academia Naval.

Nós os vemos algumas vezes. Os aspirantes, quer dizer, os “aspirantes da marinha” como eles preferem ser chamados, os estudantes. Em seus uniformes brancos sem nenhuma mancha, caminhando em pares para a cidade, sempre que meus pais e eu vamos comprar um novo livro para eu ler ou café para eles na Hard Gean Coffe e Booksellers. Meu pai aponta e diz, “Olha, Ellie. Marinheiros.”

O que não é tão estranho, realmente. Eu acho que ele estava tentando algum tipo de conversa de menina. Você sabe, porque eu não consigo nada disso da minha mãe, a matadora de aranhas.

Eu acho que eu devo pensar que os marinheiros são fofos, ou algo assim. Mas eu não ia falar com o meu pai sobre garotos. Quer dizer, eu aprecio o esforço, e tudo, mas de um jeito que era quase tão ruim quanto à coisa da minha mãe ‘Porque você não me deixa te levar para o shopping?”

E não é como se meu pai passasse seus dias fazendo algo tão excitante. O livro que ele está escrevendo é ainda pior do que o da mãe, no termômetro do tédio. Porque o dele é sobre uma espada. Uma espada! E nem mesmo é uma espada bonita, com jóias ou ouro ou coisas assim. É toda velha e tem e tem esses pedaços enferrujados e não vale nada. Eu sei por que a National Gallery em D.C deixou meu pai trazê-la para casa para que ele pudesse estudá-la mais de perto. Este é o porquê de nossa mudança para cá... para que ele pudesse olhar de mais perto para sua espada. Está guardada em seu escritório – ou melhor, o escritório da casa do professor que nós estamos alugando enquanto ele está na Inglaterra em seu próprio sabático, provavelmente estudando algo ainda mais inútil do que a espada do meu pai.

Museus deixam você emprestar coisas e as trazerem para casa se é de interesse acadêmico (em outras palavras, não vale nada) e se você é um professor.

Eu não sei por que meus pais tiveram que escolher idade média como seu campo de estudo. É a era mais chata de todas, com a possível exceção da pré-história. Eu sei que sou a minoria em pensar isto, mas isto é porque a maior parte das pessoas tem essa idéia toda confusa de como as coisas eram na idade média. A maior parte das pessoas pensam que é igual ao que vêem em filmes ou TV. Você sabe, mulheres flutuando em chapéus pontudos e vestidos lindos dizendo “vós” e “tu” e cavalheiros correndo para salvar o dia.

Mas quando os seus pais são estudantes da era medieval, você aprende desde cedo que as coisas não são bem assim. A verdade é que todo mundo na Idade Média tinha um horrível cheiro e não tinham dentes e morriam de velhice na idade de, digamos, vinte anos, e as mulheres eram oprimidas e tinham que casar com pessoas que não gostavam e todo mundo colocava a culpa nelas por cada coisinha que saía errada.

Quer dizer, olhe para Guinevere. Todo mundo pensa que é sua culpa que Camelot não existe mais.

Eu não tenho tanta certeza.

Exceto que eu descobri quando era mais nova de que compartilhar esse tipo de informação pode fazer você meio que impopular nas festas de aniversário da Bela Adormecida. Ou no restaurante Medieval Times. Os durante os jogos de Dungeons e Dragons.

Mas o que eu deveria fazer, permanecer em silêncio? Eu realmente não consigo fazer isso. Como se eu fosse mesmo ficar lá e dizer, “Aham, as coisas eram realmente ótimas naquele tempo eu gostaria de encontrar um portal do tempo e voltar para o ano 900 e visitar e pegar piolho e ficar com o meu cabelo todo embaraçado, já que não tinha condicionador, e oh, falando nisso, se você pegar infecção de garganta ou bronquite, você morre porque não tinha nenhum antibiótico.”

Um, não. Como conseqüência, eu não estou no topo da lista de ninguém quando é tempo de mandar convites para uma Feira Renascentista.

Mas que seja. Eu acabei entrando em um acordo com a minha mãe no final. Não sobre o shopping. Sobre correr com o meu pai.

Eu não queria ir ou nada assim.

Mas é uma coisa diferente do que ir para o shopping ou para o cinema. Quer dizer, exercício é algo que supostamente é muito bom para homens de meia idade, e meu pai não faz nenhum exercício há muito tempo. Eu tinha ganhado a corrida de duzentos metros entre as mulheres do distrito em casa no último maio, mas meu pai não tinha feito nenhum exercício desde sua avaliação física anual, que foi no ano passado, quando o médico disse para ele que ele deveria perder cinco quilos. Então ele foi à academia com a minha mãe duas vezes, então desistiu, porque ele disse que toda a testosterona na academia faz com que ele fique louco.

Minha mãe foi aquela que ficou toda, “Se você o fizer corre, Ellie, eu saio de cima de você sobre a coisa de flutuar.”.

O que fez com que eu decidisse. Bom, isso e o fato de que daria ao meu pai uma chance de melhorar seu coração - algo que eu sei pelo que eles sempre dizem no jornal que as pessoas velhas precisam.

Como uma boa acadêmica, minha mãe fez sua pesquisa. Ela nos mandou para um parque há cerca de duas milhas da casa que estamos alugando. Era um parque muito chique que tinha tudo: quadra de tênis, quadra de beisebol, lacrosse campo, banheiros públicos e limpos, duas pistas para cachorro – uma para grandes e outras para pequenos – e, é claro, uma pista de corrida. Nenhuma piscina, como lá em casa em Parque Como, mas eu acho que as pessoas em nossa nova vizinhança não precisam de uma piscina comunitária. Cada uma tem sua própria piscina nos fundos.

Eu saí do carro e fiz um pouco de alongamento enquanto eu assistia meu pai a se preparar para a sua corrida. Ele tinha tirado seus óculos - ele é cego como um morcego sem eles. Na verdade, na idade média, ele provavelmente teria morrido na idade de três ou quatro por despencar de um poço ou qualquer coisa assim. Eu herdei a visão perfeita da minha mãe, então provavelmente teria vivido um pouco mais – e colocado um desses óculos de aros grossos de plástico que tem uma tira de elástico que ele pode pressionar atrás de sua cabeça para impedir que saia do lugar enquanto ele corre. Minha mãe chama isso de Correia Pateta.

“Esta é uma boa pista de corrida,” meu pai estava dizendo enquanto ajustava sua Correia Pateta. Diferente de mim, que passei horas na piscina, meu pai não era nem um pouco bronzeado. Suas pernas são da cor de papel, só que com cabelo. “É exatamente uma milha por volta. Passa por algumas árvores – um tipo de bosque – por ali. Está vendo? Então é todo sobre o calor do sol. Tem alguma sombra.”

Eu coloquei os meus fones de ouvido. Eu não consigo correr sem música, exceto durante competições, quando eles não te deixam fazer isso. Eu acho que rap é ideal para corridas. Quanto mais irritado o rapper, melhor. Eminem é ideal para se ouvir enquanto corre porque ele é tão irritado com todo mundo. Exceto com sua filha.

“Duas voltas?” eu perguntei para o meu pai.

“Claro,” ele disse.

Então eu liguei o meu iPod – eu o prendi em um elástico, o que é diferente de uma Correia Pateta- e comecei a correr.

Foi difícil no começo. É bem mais úmido em Maryland do que é lá em casa, eu acho que por causa do mar. O ar é realmente mais pesado. É como correr por entre sopa.

Mas depois de um tempo minhas articulações pareceram se soltar. Eu comecei a me lembrar quanto eu gostava de correr em casa. É difícil e tudo. Não me entenda mal. Mas eu gosto de como as minhas pernas parecem fortes e poderosas enquanto eu corro... Como se eu pudesse fazer qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo.

Não tinha quase ninguém na trilha – só velhas senhoras, na maioria, caminhando com seus cachorros - mas eu passei direto por elas, as deixando em meu curso. Eu não sorri enquanto passei correndo. Onde eu morava todo mundo sorria para estranhos. Aqui, o único jeito das pessoas sorrirem para você é se você sorrir primeiro. Não demorou muito tempo para os meus pais perceberem isso. Agora eles me fazer sorrir – e até mesmo acenar - para todo mundo que passa por nós. Especialmente nossos novos vizinhos, quando eles estão em seus jardins cortando suas gramas ou o que seja. Imagem, minha mãe chama isso. É importante manter uma boa imagem, ela diz. Então as pessoas não vão pensar que nós somos esnobes.

Exceto que eu não tenho tanta certeza se realmente me importo o que as pessoas por aqui pensam sobre mim.

A pista de corrida começou como uma trajetória normal, com grama curta dos lados dela, avançando entre a quadra de beisebol e o campo de lacrosse, então virando pelas pistas de cachorro e em volta do estacionamento

Então ela deixava a grama para trás e desaparecia em uma floresta densa. É, uma floresta de verdade, bem no meio de lugar nenhum, com uma placa marrom discreta que dizia BEM VINDOS AO ARVOREDO ANNE ARUNDEL COUNTY do lado do caminho.

Eu estava um pouco espantada, enquanto corria pela placa, sobre a altura que a grama dos lados da trilha alcançou. Entrando na escuridão profunda do arvoredo, eu notei que as folhas das árvores eram são densas que dificilmente alguma luz do sol conseguia passar.

Mesmo, a vegetação dos meus lados era tão viçosa. Eu tenho certeza que tinha uma tonelada de hera venenosa ali, também... Algo que, se você pegar muito na idade média, podia muito bem ter te matado, já que não havia nenhuma cortisona.

Você mal podia ver um metro além da pista, as amoreiras silvestres e as árvores estão tão próximas. Eram pelo menos dez graus mais frio no arvoredo do que no resto da pista. A sombra acabou com o suor que estava pingando da minha cabeça e peito. Era difícil de acreditar, correndo pela aquela floresta, que eu ainda estava perto da civilização. Mas quando eu tirei meus fones para ouvir, eu pude ouvir carros na avenida atrás das árvores.

O que foi um pouco de alívio. Você sabe, eu não tinha acidentalmente ficado perdida no Jurassic Parque.

Eu coloquei meus fones de ouvido de volta e continuei indo. Eu estava com muitas dificuladades de respirar agora, mas eu ainda me sentia bem. Eu não podia ouvir os meus pés na trilha-eu só podia ouvir a música em meus ouvidos, mas me pareceu por um momento que eu era a única pessoa nesse bosque... Talvez a única pessoa em todo o mundo...

O que era ridículo já que eu sabia que o meu pai não estava tão atrás de mim assim, provavelmente não andando muito mais rápido que as senhoras fazendo caminhada, mas mesmo assim atrás de mim.

Ainda assim, eu tinha visto muitos filmes na TV em que a heroína estava correndo inocentemente e por alguma razão um psicopata aparecia de repente atrás de um arbusto, assim como aqueles de cada um dos meus lados, e a atacava. Eu não ía correr nenhum risco. Quem sabe com que tipo de loucos nós estamos lidando? Quero dizer, era Annapolis, lar da Academia Naval Norte-Americana, e dificilmente uma área conhecida por criminosos violentos que se escondem em arbustos.

Mas nunca se sabe.

Era uma boa coisa que as minhas pernas fossem tão fortes. Se alguém realmente pulasse em cima de mim vindo de trás das árvores, eu estava bastante confiante de que eu podeira lhe dar um belo chute na cara e continuar correndo dele até que a ajuda chegasse.

E foi bem quando eu estava pensando nisso que eu o vi.




Espero que estejam gostando. Amanhã posto o 2º Capítulo.





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