Mentira, eu me importo

Ele foi embora. Eu não me importo. Bem, não tanto quanto na semana passada, logo depois que fechou a porta do meu apartamento bem na minha cara. Naquele momento junto com a porta batida, o mundo tremeu sob os meus pés. Perdi o chão, fiquei sem rumo, não saí da cama por 2 dias. Só queria ficar deitada, lembrando de cada momento que passamos juntos, derramando lágrimas a cada vez que ouvia a música tocando no replay: “Hoje só tua presença vai me deixar feliz, só hoje.”

Meus pais foram me visitar, eu não atendia ao telefonema de ninguém, apesar de ficar com o celular no peito o tempo inteiro, esperando a ligação de alguém arrependido. Quando eles chegaram, pude perceber que minha mãe chorou. Será que eu estava tão caótica assim? Meu pai coçou a cabeça como sempre fazia quando a situação estava feia. Eles sentaram na beirada da minha cama, me abraçaram e choraram junto comigo. Não foi exatamente comigo porque eu já não tinha mais lágrimas, mas da minha boca saía barulho de choro.

Me levaram ao médico no dia seguinte. Em que médico se leva alguém que acabou de ter o coração partido? Não sei, mas pais sempre sabem o que fazer, só que não tiveram o resultado esperado. O médico disse que eu não tinha nada, estava em perfeitas condições. Minha mãe olhou perplexa para ele se questionando como poderia estar bem. Acho que ela esperava que ele receitasse um paracetamol 500mg de 8 em 8 horas. Lembro dela falando baixinho para que eu não escutasse: “O namorado dela terminou o relacionamento de 6 anos. Iam ficar noivos semana que vem.” Ela disse isso como quem se diz: “Minha filha está tossindo muito. Acho que pode ser uma pneumonia vindo por aí.” O médico olhou-me com compaixão e voltou o olhar para o meu pai dizendo: “Meu senhor, desculpe-me, mas não posso fazer nada. O melhor remédio para isso é o tempo.”

Tempo… A palavra que sempre me matou e me fez perder noites mergulhada na insônia. Tempo também era o que ele falava quando eu me desesperava querendo tê-lo na minha vida o tempo inteiro. Queria que ele estivesse do meu lado quando acordasse, queria que ele fosse a última coisa que meus olhos vissem antes de se fecharem durante a noite. Queria cinema na segunda, pizza na terça, cobertor, sorvete na quarta e quinta, jantar surpresa na sexta e amor nos finais de semana. Só que os meus desejos não eram os mesmos dele. Ele é mais velho do que eu três anos, mas tem muita vida pela frente. Sempre tentava me convencer de largar tudo e ir conhecer o mundo a fora com uma mochila nas costas. Ele sempre foi muito aventureiro, gostava de acordar sem saber o que ia fazer durante o dia, andava sem rumo e conhecia vilarejos nos finais de semana. Eu o acompanhava em todos os seus programas, mas não era bem o que eu queria. Só que mesmo assim eu ia. Ia porque o amava, sabia o tanto que aquilo lhe faria feliz, mas eu também queria ter uma vida fixa, queria ter raízes. Uma casa com jardim, um marido, quatro filhos e um Pug.

Infelizmente nossos desejos não eram os mesmos. Chegou uma hora que ele se cansou. Cansou de me ouvir falar em construir uma vida juntos, de planejar nosso casamento e as cores das paredes da nossa futura casa. Eu achei que era isso que todos os homens queriam, mas esqueci que ele é único, que nunca foi igual aos outros e foi exatamente isso que me fez ser completamente apaixonada por ele.

Hoje em dia estou um pouco melhor, mas nunca estarei completamente curada. O que eu sinto por ele é amor e quando é de verdade, não vai embora. O sentimento ainda continua morando no seu peito, você coloca-o para dormir para que você consiga seguir em frente. Para, pelo menos, tentar viver sem a presença de alguém que seu coração chama todos os dias insistentemente. Acho que depois que você encontra o amor e por algum motivo ele se vai, você nunca estará completamente curada.

Mentira. Eu me importo e sempre vou me importar. Eu o amo e também sempre vou amar, mas agora é hora de seguir em frente. Ou pelo menos, tentar…

Autor: Mari

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